(1918 - 1998)
Não é justo, mãe,
que tenhas bebido tanto
o fel do sofrimento,
embora eu saiba que é
um bem escasso, a justiça,
como escasso é o pão
para tantos.
Olho-te
agora que o pulsar da vida
te deixou,
olho-te o rosto devastado
pelo sofrimento,
lívido e frio,
e descubro nele, enfim,
alguma paz.
Descansa, mãe.
Só tenho pena
de que já não possas ver
no quintal
a ameixoeira a florir.
Jorge Cunha